Subir o Monte Crista por uma lendária e antiga trilha de pedras é uma aventura que requer um cuidadoso planejamento. As lendas sobre a região do Monte Crista são famosas e conhecidas internacionalmente. Temos registros de pelo menos três obras publicadas por escritores estrangeiros e que mencionam a misteriosa “Estrada Três Barras”, muitas vezes chamada erroneamente de “Trilha dos Jesuítas” ou Jesuitenweg.
Para subir, deve-se ir até a estrada Três Barras, onde cruza-se uma ponte pênsil e do outro lado é preciso dar a volta e passar por debaixo da ponte para achar o começo da trilha. As três pontas, justamente em forma de crista, estão a 900 metros de altitude. Mais adiante vamos cruzando pequenos riachos, valas pluviais naturais, olhos d´água, tudo isso em meio a vegetação típica de Serra do Mar.
História estranhas não faltam sobre o Monte Crista, a velha estrada e os Campos de Ambrósios (atualmente também conhecidos por Campos do Quiriri). Também não são poucos os relatos dos avistamentos de fenômenos estranhos, alguns de pessoas que hoje têm mais de 80 anos.
Nesta faceta mística da região encaixa-se a obra do cientista norte-americano Dr. Raymond Bernard. No livro “A Terra Oca” (Nova Era, 1969), ele defende que há nos confins subterrâneos do planeta uma verdadeira base de discos voadores, cujas entradas são aberturas nos pólos e em alguns outros pontos da terra, entre eles as imediações do Monte Crista na região de Joinville. Segundo Dr. Bernard, no fundo da terra vive uma super-raça que não deseja manter contato com o homem, mas foi obrigada a lançar seus objetos voadores quando o planeta foi ameaçado pela tecnologia nuclear.
Um trecho do “A Terra Oca” é especialmente curioso e menciona uma literatura antiga que faço questão de reproduzir na íntegra: “Um dos primitivos colonos alemães de Santa Catarina, no Brasil, escreveu e publicou um livro em alemão antigo, tratando do mundo subterrâneo e baseando-se para isto em informações dos índios. O livro descreveu a Terra como sendo oca, com um sol em seu centro. O interior da Terra foi dito ser habitado por uma raça de frugívoros, livres de doenças, e de vida muita longa. Esse mundo subterrâneo, o livro afirmava, era ligado à superfície por túneis, que se abriam principalmente em Santa Catarina e regiões limítrofes do Sul do Brasil. O autor dedicou quase seis anos de investigações ao estudo dos túneis misteriosos que se entrelaçam sob Santa Catarina, construídos obviamente por uma raça antiga, a fim de alcançar as cidades subterrâneas. As pesquisas ainda estão em andamento. Numa montanha, perto de Joinville (o Monte Crista), o canto coral dos homens e mulheres atlantes tem sido ouvido repetidamente – também o ‘canto do galo’ que é a indicação da existência da abertura de um túnel que conduz a uma cidade subterrânea. O canto não é produzido por um animal, mas por alguma máquina.”
Dr. Raymond defende ainda em seu livro que os discos voadores vindos das profundezas, também poderiam usar túneis em outras regiões além dos pólos. Essa informação, pelo menos coincide com o grande número de relatos de avistamento de OVNIS, especialmente nos campos – um pouco acima do ponto onde vamos acampar.
Outros relatos místicos, alguns bem antigos, dão conta de aparições estranhas de vultos, pássaros que se transformam em folhas de árvores, chuva de granizo sem nenhuma nuvem no céu, ruídos estranhos especialmente durante a noite, e trilhas e cavernas que parecem mudar de lugar, ou serem perfeitamente camufladas a ponto de não serem encontradas uma segunda vez.
A primeira referência oficial sobre a trilha cita a existência já em 1600 da a ligação entre São Francisco e o planalto curitibano, e é de autoria do Major Manoel Joaquim d´Almeida Coelho na obra “Memória Histórica da Província de Santa Catarina”, editada em 1856.
Muitos pesquisadores antigos relacionavam a Estrada Três Barras a uma ramificação do caminho indígena conhecido por Peabiru. Conta-se ainda que a trilha entre São Francisco e Ambrósios (Campos do Quiriri) serviu, em 1777, para a retirada das força portuguesas quando da invasão espanhola.
Em 1807 há outro relato importante: o viajante e mineralogista inglês, John Mawe passou pela antiga estrada e dedicou a ela parte de sua obra “Travels in The Interior of Brasil” (London, 1812).
Existem vários relatos históricos de uso da Estrada Três Barras e o Caminho de Ambrósio como rota comercial para mantimentos que eram levados no lombo de burros. No entanto essa forma rudimentar de “tropeirismo” desapareceu destas paragens com a construção da Estrada Imperial Dona Francisca ligando Joinville a Campo Alegre, São Bento do Sul, Rio Negrinho e Mafra.
O monte está repleto formações monolíticas de grandes dimensões. Mas nem todas são monolíticos, como o caso da formação apelidada de “o homem sentando”. Ela é constituída de pelo menos três partes visíveis e que parecem se encaixar perfeitamente.
Outras formações nos deixaram intrigados. Lembram muito as famosas estátuas monolíticas da ilha de Páscoa. Uma parece mais acabada, enquanto que outra parece ser a parte superior da face de uma delas.
Algumas rochas encontram-se no estado de “equilíbrio precário”, que segundo os especialistas, são indicativos de longos períodos de calmaria sísmica.
Em tudo parece haver alguma forma de intervenção humana. Pelo menos é lícito admitir que as rochas estão em uma estranha disposição de frente para o poente.
A primeira coisa que chama a atenção é a data grafada na parte superior: dia 20 de agosto de 1039. Nota-se pela grafia do número “2” um estilo diferente do usual, que lembra o gótico. Abaixo da data há uma espécie de espiral entrecortada por várias perfurações que parecem querer simbolizar alguma coisa em especial. Mais abaixo ainda estão duas setas, em sentidos contrários e visivelmente relacionadas as letras “E” e “L”. Outras linhas estão dispersas em partes do enigmático desenho sem uma aparente relação.
Seria uma representação da posição sagrada dos monolíticos em torno do Monte Crista? Mas e a data, aparentemente grafada na mesma época, é obra do mesmo autor, ou trata-se de uma fraude de algum engraçadinho? Intrigou-me o estilo do algarismo “dois”, grafado com um certo estilo antigo…
Ou seriam os pontos a demarcação da localização das misteriosas cavernas de que tanto se tem falado? Indicariam as linhas espirais a trilha que percorremos?
Considerando que as letras e números sejam originais das inscrições, então como se pode justificar a espantosa presença nestas paragens de alguém que conhecia alfabeto e algarismos em 1039?
Alguns metros ao norte desta pedra, está outra com uma inscrição que lembra uma cruz. Ela está esculpida em menor profundidade e não tem mais que uns 20 cm de altura. Em sua volta há muitos fragmentos de rocha derretida.
O mistério continua e sem um estudo apropriado e dirigido por especialistas, dificilmente teremos alguma chance de chegar a bom termo na interpretação do enigma.
No lado sul da velha inscrição está a entrada de uma caverna, que não parece ser muito profunda. Precisaríamos de cordas e equipamento adequado para entrar nela (estamos certos de que voltaremos para uma exploração mais apurada). Detalhe: mesmo guardando silêncio total, não ouvimos as tais “máquinas atlantes”…
Continuamos nosso caminho e agora voltamos a trilha original (a estrada Três Barras), ainda pavimentada de pedras. Totalizando quase 15 quilômetros de caminhada, chegamos ao local do acampamento, próximo a um córrego de águas cristalinas e no cume de uma colina que permitia uma visão perfeita de Joinville ao sul. Um espetáculo, especialmente à noite.